Escrevo por falta de dinheiro;

Longe de mim menosprezar o trabalho alheio, bem pelo contrário, acho que os psicólogos e psiquiatras tem a função mais difícil e nobre de todas. Se eu às vezes não quero estar dentro da minha cabeça imagina uma pessoa que nem me conhece.
(contém autodepreciação proposital)

Mas ultimamente tenho achado um alivio (barato) pra esse turbilhão que são meus pensamentos, escrever. Aí você que está lendo isso me pergunta “Ué mas cadê esses textos então?” e eu te respondo caro leitor, eu disse escrever nunca disse postar. Acho que a parte mais importante desse processo todo de autoconhecimento e blablabla é escrever e nunca postar, falar em voz alta sem ninguém te ouvir.

Parece estranho mas segue meu raciocínio, a gente está sempre ligado nas redes sociais e se expressar virou algo quase vital, até aí tudo bem somos bichos sociais e precisamos da “aceitação dos outros” mas já parou pra pensar quantas vezes você se explicou para os outros e não para você? Quantas vezes você nem sabia o que estava sentindo mas tentou vomitar explicações para um amigo, só porque ele te perguntou algo que você nem sabia a resposta ainda? Isso é pura falta de diálogo, sim diálogo, não com os outros mas com você.

Externalizar o que sente é necessário e o tempo pra se ouvir mais ainda.

P.S.: Esse texto é um pensamento vomitado de uma pessoa individual.

Me Myself and I

A primeira vez que vi qualquer coisa sobre a síndrome do impostor foi em um meme, sim um meme, em uma pagina no instagram sobre o signo de capricórnio, comecei a pesquisar sobre e lá estava toda a minha vida basicamente resumida, todas as minhas nóias e inseguranças que eu jamais consegui verbalizar de uma forma que poderia fazer sentido pra mim.

Começando pelo começo, a síndrome do impostor, fenômeno do impostor ou síndrome da fraude, é um fenômeno que faz com que a pessoa ache que não é tão capacitada a fazer coisas que provavelmente ela é, subestimando as próprias habilidades e também levando a acreditar que outros sempre serão mais capazes até mesmo os que claramente não são. Importante lembrar que não se trata de uma desordem psicológica reconhecida oficialmente, mas já existe muitos psicólogos falando sobre o assunto e também até alguns memes.

Então pra mim essa síndrome aparece em qualquer momento da minha vida em que envolva algo grande ou que meu cérebro julgue importante, pode ser trabalho ou não, agravando principalmente naqueles momentos no qual eu sou encarregada de liderar outras pessoas a síndrome do impostor está lá sentadinha só esperando a hora de aparecer, um ótimo exemplo também é eu acreditar que não sou nem boa o bastante para ter essa síndrome como aconteceu quando eu estava pesquisando sobre ela.

Mas depois de alguns meses lendo sobre e convivendo com algo que agora tem nome, e já que me recuso a achar que essa coisa se instalou em mim apenas pelo simples fato de as estrelas estarem alinhadas de uma certa forma no dia 13/01/1992 eu tenho tentado entender, respeitar e me forçar a pensar diferente sobre mim, sobre quem eu sou e quem quero ser. E é aí entra o self-love tão falado, compartilhado, discutido e CRITICADO, coloquei criticado em caps para dar o enfase na voz em que aqui são letras, criticado a tão longo prazo que as pessoas passaram a achar que elas não são boas o bastante para nada. A verdade é que nós demoramos tempo demais para falar sobre amor próprio e naturalizar ele que pra mim agora com 28 anos ainda soa estranho me fazer algum elogio seguido de dois tapinhas nas costas. Claro melhor tarde do que nunca, mas a questão é que também não existe uma receita para se amar, são coisas que você precisa descobrir com você mesmo tipo um diálogo com outra pessoa, precisar estar disposto a ouvir de verdade o que essa pessoa tem para dizer e se sentir confortável e receptivo. Comportamentos que venho negligenciando muito ao longo desses anos e que aos poucos estou tentando mudar com alguns acordos comigo mesma.

Nunca fui de fazer resoluções para anos que começam, mas já que vou tentar sair fora da minha própria zona de conforto comigo (ou seria entrar?) acho que posso confiar em mim e me dar o direito de me prometer coisas esse ano, no minimo de ser sincera, aberta sempre pra mim e não julgar tão duramente a única pessoa que vou estar pra sempre junto, eu mesma. No fim das contas meu eu de 15 anos que queria fazer uma tatuagem de uma frase do Bob Dylan que dizia “All I can do is be me. Whoever that is.” estava totalmente certa.

Foto por mim em algum banheiro por aí.

Isso não é um texto, é um teste;

Obra Conrad Jon Godly

Esse texto era para se chamar síndrome da tela em branco, mas pesquisando sobre o assunto eu descobri que existe realmente um problema médico com esse nome, algo sobre a tela do computador causar alguma reação nos olhos, algo que não me aprofundei muito afinal quem liga para a saúde certo? Ultimamente estou mais preocupada com a minha crise de criatividade, parece algo horrível de se dizer mas isso sempre foi algo que me angustia muito toda vez que aparece, e ahhhh sempre aparece.

Desde que comecei a perceber o mundo a minha volta sempre fui muito ligada a arte em geral, escrita, desenho, pintura, fotografia e nunca me imaginei fazendo outra coisa na vida, posso ter escrito algumas bobagens na escola quando era mais nova sobre ser veterinária mas isso foi puro blefe e amor demais pelos animais tenho certeza. Então sempre gostei de desenhar e fazia isso e praticamente qualquer lugar, em casa na escola durante as matérias de exatas é claro, no ônibus… Também fiz alguns cursos quando mais nova que eu adorava apesar da vergonha (assunto para outra hora) mas algo sempre foi presente desde que comecei essa jornada, a famosa TELA EM BRANCO. Qualquer hora me encontrava nesse limbo, e resumindo para vocês ela é a agoniante sensação de não ter ideia do que fazer misturada com todas as ideias mais criativas do mundo emboladas, com a 5° sinfonia de Beethoven tocando alto no fundo, acho que não conseguiria descrever melhor do que isso. Uma hora tu está lá pintando como uma louca, criando talvez melhor que Michelangelo, talvez mais livre e revolucionário que Basquiat e lembra que tinha que encontrar alguém daqui a 5 minutos para tomar café e PUF seu processo criativo é cortado no meio com o pensamento otimista “de boa, na volta eu continuo” e quando se volta para o projeto se depara com uma tela em branco e simplesmente nada sai de lá, por dias que mais parecem anos e a sensação de precisar criar algo que te corroê as entranhas, até se ter coragem de fazer o primeiro risco novamente.

E assim com essa sensação estou aqui escrevendo esse texto que é mais um teste misturado com um desabafo onde parece tudo mais vomitado do que uma obra prima, dando graças a deusa que se pode apagar e reescrever quantas vezes forem necessárias sem gastar folhas por nada ou ficar atrolhada com telas de “teste” espalhadas pra tudo quanto é lado da casa.

Orgulho

Foto Stefanie Moura

Dia 29 de junho foi o glorioso dia da Gay Pride Milano! Sempre amei esse evento, fui em todos que consegui em Porto Alegre, incluindo alguns eventos simpatizantes com esse e eventualmente um em São Paulo que foi incrível, mas dia 29 de junho de 2019 foi a minha primeira parada fora do Brasil e a ansiedade não cabia em mim, não consegui parar quieta todo o caminho até Milão.

Chegando lá, segui pelas ruas até a estação Milano Centrale de onde a parada começaria às 16h de uma tarde muito quente. Quanto mais próximo do evento mais a música ia aumentando, no caminho pessoas com a bandeira colorida rindo, bebendo, grupos enormes de amigos, amantes e cúmplices de uma guerra infelizmente ainda sem fim, o sentimento de fazer parte de algo maior arrepia todo o corpo ao chegar na frente da estação – que por si só já é maravilhosa – colorida por todas aquelas pessoas e cores se tornou uma visão ainda mais linda. Lembrei imediatamente de uma senhora que passei enquanto ia para a estação da minha cidade pegar o trem rumo a Milão, com um sorriso no rosto ela disse ao ver minhas meias coloridas com as cores da bandeira “Estão indo para Milão?” respondi que sim com um sorriso igual ao que ela tinha no rosto me sentido dentro de uma tribo reconhecida por suas cores.

O mar de pessoas era interminável, e eu e a Stefanie (minha namorada) conseguimos andar por algum tempo entre os carros de som, tirar algumas fotos aproveitar as músicas algumas vezes engraçadas como se estivéssemos escutando xuxa e outras nunca ouvidas totalmente novas, juntar algumas figurinhas que as pessoas entregavam com diversos tipos de after party imagináveis, compramos a clássica cerveja italiana que é bem mais quente do que estamos acostumados no brasil mas se está na chuva é pra se molhar mesmo, e nos molhamos de suor, danças, água que algumas boas almas jogavam das sacadas dos apartamentos pelo caminho para refrescar os que passavam embaixo e claro cerveja. Mas principalmente passamos a tarde banhadas em um mar de cores, não apenas as que estamos acostumados a ver na bandeira mas tantas outras tão importantes quanto, naquele dia estávamos submersos em línguas, músicas, pessoas e lutas diversas e nos sentimos todos um só.

Foto Stefanie Moura

Italianos VS. Peitos

Foto Stefanie Moura

Sabe quando vemos aqueles filmes europeus, onde as mulheres andam sem sutiã ou fazem topless nas praias de águas esverdeadas? Até agora pra mim isso foi tudo mentira. Aliás o problema que os italianos (não posso dizer todos os europeus) tem com peitos, sejam eles cobertos por um biquíni ou cobertos por apenas uma camiseta, é bem real.

Não uso sutiã já faz um tempo, decidi isso por vários motivos e o principal foi o calor, sofro demais com o calor que o sutiã/top me causam, outro fator foi chegar a conclusão ou libertação que meus peitos não precisam de um suporte muito menos serem escondidos (eterna luta feminista) e assim um belo dia resolvi não usa-los mais. Os primeiros momentos sem nada cobrindo meus peitos a não ser uma camiseta, lembro bem do que senti, parecia que o mundo todo sabia e que de alguma forma com algum tipo de super poder x-men conseguiam ver através da minha camiseta, a sensação é que as pessoas na Coréia do sul já falavam sobre o assunto dos meus peitos não estarem “devidamente” cobertos. Com o tempo e o costume e muito foda-se isso foi passando, e se é verdade ou não sobre as pessoas notarem, passei a me preocupar cada vez menos e até me sentir mais confortável com essa parte do meu corpo. Andar biquíni então nem sem fala nunca mais foi um problema, aquela loucura de sair do mar e já colocar uma camiseta por cima hãhã nunca mais, pra mim andar com algo me apertando já se tornava um problema maior, não estava mais afim de me sentir presa e a vontade de ir em uma praia de nudismo me encanta demais até hoje.

Aí é onde começa minha briga, até então recente com os italianos, primeiro verão na itália e o pensamento imediato foi “Finalmente um topless em uma praia italiana!” bom ainda não tive oportunidade de ir para praia mas moro em uma cidade onde tem um lago maravilhoso e os lidos (lugares onde se pode tomar banho no lago) são uma ótima opção. Primeiro banho de lago foi em Bellagio a poucos dias, cidade linda com ruas e escadarias tipicas italianas e um calor mais tipico ainda, uma entrada na lagoa veio a calhar. Entramos eu e minha namorada e mais alguns banhistas que estavam por lá, valia tudo biquíni, maiô até roupa mesmo. Após nos refrescarmos nos jogamos no sol em uma praça esperando o corpo secar e em seguida mais uma volta na cidade antes de ir embora, dessa vez sem camiseta e com a parte de cima do biquíni, andamos por algumas ruas cheias de turistas até que uma senhora sentada em uma loja (deveria ser a dona) nos chamou e falou o seguinte “Coloquem as roupas, a policia anda por aí e *insira aqui aquele sinal de dinheiro que se faz com a mão” paramos nos olhamos e colocando as camisetas enquanto a processávamos aquela informação, uma multa por andar com a parte de cima de um biquíni em uma cidade onde é permitido tomar banho no lago? Agradecemos a senhora e seguimos o caminho todo pensando sobre o assunto. Já tinha acontecido algo semelhante em Como (cidade onde moro) em que fui em um desses lidos tomar banho de sol e voltei para casa de bermuda e novamente com a parte de cima do biquíni, além de sofrer alguns olhares mais invasivos, uma pessoa buzinou e fez algum gesto com a mão, não parecia com a intenção de “dar em cima” como estamos infelizmente acostumados nos brasil, mas sim braba pelo fato de eu não estar de camiseta, fiquei sem entender nada e segui meu caminho para casa.

Continuo sem saber se esse desgosto todo que os italianos tem com os peitos alheios é real ou mera imaginação da minha cabeça, se são só os meus ou de todos os mamíferos no planeta ou se isso é realmente só aceitável no cinema. Sigo eu ainda na mesma velha história dos mamilos polêmicos.

Como?

Foto Stefanie Moura

Quando minha mãe resolveu se mudar para Itália depois de uma vinda para o casamento de uma amiga, ela apareceu na porta do meu apartamento em Porto Alegre e o comunicado foi o seguinte “Lembra que eu iria para Itália em dois anos? Então em 7 meses estou me mudando.” eu divagava sobre as possibilidades de fazer um curso talvez, ou ficar com ela por uns tempos na Europa quando ela tinha me dado o primeiro prazo de vinda, mas 7 meses foi chocante, que coragem foi o que eu pensei.
Agora cá estou depois de, igual a ela, não ter pensado muito na minha vinda, só o tempo de juntar algum dinheiro e ir em algumas festas de despedida, em Como uma cidade na Lombardia quase 1h de Milão. Quando os amigos perguntavam para qual cidade eu viria a resposta era Como, e todos ficavam me olhando com cara de não entendi nada, cidade de nome estranho no qual eu nunca tinha escutado falar até minha mãe se mudar para cá e eu logo em seguida.

Era natal quando cheguei em Como, vim com uma amiga que considero irmã, e assim que colocamos os pés no apartamento fomos arrastadas para o centro storico (Centro Histórico) ver as luzes de natal e a torre da duomo que foi transformada em um personagem e contava uma história que não entendi muito bem sobre o Babbo Natale (Papai Noel) devido ao pouco italiano que me cabia na época mas que meu irmão de 11 anos tratou de traduzir para mim.
Meu pai me disse uma vez, que cada cidade, país tem um cheiro então logo tratei de prestar atenção nas notas que Como me apresentava naquele primeiro contato natalino, algo doce misturado com cheiro de massas vendidas na feira de natal, cigarros e frio. A sensação foi que caminhei muito aquela noite, me perdi nas ruas que pareciam todas iguais e ao mesmo tempo diferentes, me sentindo dentro de um filme e acho que a maioria das pessoas cinéfilas que vem para a europa se sentem igual, incrível como as minhas primeiras impressões os lugares sempre parecem enormes é algo quase de olhar infantil tipo quando eu achava que a árvore de natal da casa da minha avó era gigante e anos depois descobri que não era tanto assim mas sem deixar de ser linda. A noite foi regada com spritz coisa que nunca tinha escutado falar ou bebido, apenas alguns dias antes da minha vinda para Itália, e que aparentemente se toma muito aqui e particularmente acho melhor do único que provei no Brasil.

Assim como a árvore de natal da minha avó com a cidade não foi diferente, depois de caminhar sem rumo e me perder um pouco o que gerou varias risadas com a minha amiga, passar por lojas que jurávamos que não estavam lá antes, eu tinha Como nas minhas mãos. Na verdade era o que eu pensava até começar a observar de verdade a cidade e as coisas que ela tinha para mostrar e me fazer viver, desde picnics na Villa Olmo, conversas com algumas pessoas nas ruas por causa dos seus cachorros e que é preciso pedir permissão para fazer carinho neles, entender que aqui se dorme cedo e que existem poucos lugares que ficam abertos até mais tarde, que os horários de lojas e restaurantes são completamente diferentes e que é preciso se programar porque tu pode chegar lá e dar de cara na porta, que as pessoas te desejam “buona giornata” sempre e que se caminha muito. Principalmente isso, se caminha muito! Não sei se em toda Itália é assim, mas aqui se faz praticamente tudo a pé a não ser que se precise ir para outra cidade próxima, coisa que também já fiz a pé e que foi ótimo, penso que não existe uma forma melhor de conhecer um lugar do que caminhando. Para uma pessoa que sempre morou em cidade grande e nunca pensou ou morou no interior, muito menos no interior em algum lugar da europa, existem coisas que a italia ainda está me ensinando e acho que é isso o que significa morar em outro lugar, aprender e entender a cidade e os costumes de onde se mora e principalmente viver elas da melhor forma. O que penso de Como atualmente é que pra mim ela é uma cidade que faz sentindo e não ao mesmo tempo, coisa que eu me identifico muito, ela não é exata e nem precisa ser.